Anexos de Conimbriga

1. CRUZ, D. J. (1992), A mamoa 1 de Chã de Carvalhal no contexto arqueológico da Serra da Aboboreira

2. LOPES, M. C. (1994), A sigillata de Represas - Tratamento informático

3. LOPES, M. C. (2003), A cidade romana de Beja. Percursos e debates acerca da civitas de Pax Ivlia




CRUZ, D. J. (1992), A mamoa 1 de Chã de Carvalhal no contexto arqueológico da Serra da Aboboreira, Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Coimbra, Anexos de Conimbriga, 1, Coimbra, 168 pp., XXI est., 5 desd.


[Preço: Portugal: 20 €;
estrangeiro: 26 €]

A Mamoa 1 de Chã de Carvalhal faz parte do conjunto megalítico da Serra da Aboboreira; situa-se no sector mais ocidental deste contraforte do Marão, em superfície de vertente, de declive suave, na proximidade de outros monumentos do mesmo tipo; a construção tumular, pelas suas dimensões, surge na paisagem com relativa monumentalidade, particularmente se observada de sul.

A intervenção arqueológica realizada no monumento, em 1982 e 1986, permitiu a definição das suas principais características construtivas: tumulus em terra, superficialmente protegido por uma estrutura pétrea de revestimento muito densa, de planta circular, medindo 13 m de diâmetro e 1,30 m de altura máxima (não considerando as terras in situ do 'solo' antigo enterrado, cuja espessura variava entre 0,40 e 0,60 m); assente directamente sobre e estrutura, ou, em alguns casos, sobre uma camada de terra que se lhe sobrepunha, desenvolvia-se um círculo lítico incompleto, formado por blocos e lajes de granito, de dimensões medianas, de formato algo regular, denotando afeiçoamento ou escolha criteriosa, sem funções de ordem técnica; na área central do monumento (e do círculo lítico, implantava-se a câmara funerária, de tipo cistóide, de planta sub-rectangular (l,50 x 1,00 m), fechada, constituída por seis esteios, cuja altura não ultrapassava 1,50 m, exteriormente sustentada por um contraforte; entre esta e o círculo lítico, no lado nascente, dispunha-se um monólito de granito, de textura e configuração distinta da dos blocos que constituam aquele, pousado sobre a estrutura pétrea superficial.

A preparação do sítio escolhido, previamente limpo de vegetação, talvez através do fogo, a regularidade e simetria destas diferentes estruturas, apontam no sentido da existência de um plano previamente concebido criteriosamente executado e, talvez mesmo, da ritualização do próprio acto de construir: o 'edifício' tumular constituiria para a comunidade, em última instância, a oferenda colectiva de maior expressão.
A decapagem superficial e a escavação da câmara funerária e das terras do tumulus através da abertura de duas valas de sondagem, permitiu a recolha de algum espólio: fragmentos cerâmicos pertencentes, talvez, a 10 vasos, lisos uns, por vezes de feitura mais grosseira, decorados, outros, no âmbito do vaso campaniforme, segundo os estilos 'pontilhado de bandas' - variante internacional, 'pontilhado geométrico' e 'inciso'; dois punhais campaniformes e cinco pontas de lança, em cobre com elevado teor de arsénio, de diferente tipologia; dois 'esferóides', em granito mostrando claramente afeiçoamento através de piquetagem. Apenas os materiais metálicos foram recolhidos in situ nas terras do tumulus, na proximidade da câmara funerária, distribuídos em dois grupos (punhais + pontas de lança), sob a estrutura pétrea de revestimento; a cerâmica proveio das terras superficiais que cobriam aquela estrutura, embora as maiores concentrações, por vezes em conexão, tivessem sido recolhidas junto do monólito de granito, a nascente, e no interior do círculo lítico, admitindo-se, por isso, a existência de deposições rituais no exterior da câmara funerária.
A Mamoa 1 de Chã de Carvalhal traduz, ao nível técnico, a simbiose de características arcaizantes, comuns às construções dolménicas, e soluções inovadoras, situando-se no culminar do movimento megalítico da região. O espólio é também tardio, evidenciando a mistura de diferentes elementos, de carácter local, uns, exógenos, outros, denotando ligações ao Período Calcolítico, ou já da Idade do Bronze Antigo.
O estudo do monumento foi complementado com análises pedológicas, palinológicas, antracológicas, paleocarpológicas e metalográficas, cujos relatórios se publicam em apêndice.

A integração da Mamoa 1 de Chã de Carvalhal no contexto local foi motivo para a apresentação de uma perspectiva de síntese da ocupação pré-histórica da Serra da Aboboreira.
Não considerando os vestígios de uma ocupação pré-megalítica, cujos dados se encontram ainda inéditos, sistematiza-se toda a informação fornecida pelas escavações arqueológicas realizadas na área da Serra da Aboboreira. No que concerne ao megalitismo, a valorização de diferentes elementos - tipologia, dimensões e inserção dos monumentos no espaço, cultura material, arte megalítica, datações radiocarbónicas, etc. - permitiu a definição de distintos tipos construtivos e momentos cronológicos; trata-se de uma aproximação, verosímil mas discutível, que deve ser vista com provisoriedade e tendo presente a quantidade e a qualidade da informação disponível.

O espaço da Serra da Aboboreira terá começado a ser utilizado, com fins funerários, a partir da 2ª metade do IV milénio a. C., com construções dolménicas fechadas, de reduzido espaço útil, providas de tumulus, de dimensões medianas; os monumentos mais amplos e abertos terão sido construídos mais tardiamente, na transição do IV para o III milénio a. C., ou nos seus inícios; o único dólmen de corredor, cujos esteios são pintados e gravados - fornecedor, também, das primeiras pontas de seta deste conjunto de monumentos -, inserir-se-á no III milénio a. C., talvez já no 2.º quartel. Para o período de, aproximadamente, 3500 a 2500 a. C., ao invés de um polimorfismo arquitectónico, sugere-se, mais verosimilmente, a existência de uma evolução no sentido de uma maior complexidade, dimensionamento e monumentalidade.
Não é bem conhecida a utilização deste espaço durante a 2.ª metade do III milénio a. C.; ainda que considerando a fragilidade dos elementos disponíveis, admite-se que um grupo de monumentos, quantitativamente significativo - tipo V - cujas características técnicas, dimensões e situação no terreno o distinguem claramente das construções dolménicas anteriores, corresponda a momento, ou momentos, deste período, ou, talvez ainda, dos inícios do II milénio a. C. As construções de tipo 'cairn' são da Idade do Bronze Antigo, embora um destes monumentos, sem estrutura interna, possa ter sido construído mais tardiamente, talvez já na 2.ª metade do II milénio a. C.

A conjugação dos diferentes elementos fornecidos autorizam a sua inserção, no contexto da Pré-História do Norte de Portugal, na transição do Calcolítico Final para a Idade do Bronze, momento que o autor situa em torno de 1850 a. C. (cronologia convencional). São claros, por outro lado, os contactos exteriores, admitindo-se uma penetração do vaso campaniforme a partir do litoral português e no sentido sul-norte.

Por outro lado, os materiais campaniformes (cerâmicos e metálicos) fornecidos pelo monumento devem ser entendidos no âmbito das amplas relações inter-regionais que se registam na Península Ibérica nos finais do III e inícios do II milénios a. C.; penetrando em diferentes contextos culturais, são usados por distintas populações, enriquecendo o espólio tradicionalmente utilizado nos rituais funerários. A variação quanto ao tipo de monumentos - muitas vezes reutilizando antigos sepulcros - composição artefactual, ritual, etc., como é observável no próprio conjunto de tumuli da Serra da Aboboreira e em outros contextos do Norte de Portugal, não traduzirá mais que as diferentes tradições culturais e situações de desenvolvimento económico e de complexidade social das comunidades em que se insere, certamente ligado, localmente, ao estatuto de cada elemento dentro da sociedade, ou, eventualmente, participando já nos processos de diferenciação e de hierarquizção social em curso em algumas destas comunidades.

Uma referência final é feita às sepulturas sem tumulus, datando dos finais do milénio e relacionando-se com a ocupação inicial do povoado que lhe é próximo. Outros vestígios pré-históricos da região são mencionados, nomeadamente os que se ligam ao povoamento tardio da Serra da Aboboreira.
O último capítulo do texto é uma tentativa de interpretação global da ocupação pré-histórica da Serra da Aboboreira, relevando-se, no que respeita ao megalitismo, os elementos de carácter simbólico, em estreita relação com as mudanças de ordem social e económica.




LOPES, M. C. (1994), A sigillata de Represas - Tratamento informático, Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Coimbra, Anexos de Conimbriga, 2, Coimbra, 248 pp., III est., 1 anexo.


[Preço: Portugal: 20 €;
estrangeiro: 26 €]

A sigillata em estudo é parcela de uma vasta colecção de materiais arqueológicos que Fernando Nunes Ribeiro possuía e que em 1987 doou ao Museu Regional de Beja. Trata-se de um conjunto de 6508 peças provenientes da villa romana da Herdade das Represas, situada a 6 km de Pax Iulia (Beja, Portugal).

Sujeitas a um tratamento informático, foi possível atribuir a estas peças a capacidade de nos revelarem informações de natureza cronológica e económica, tanto para a villa como para a Lusitânia Meridional.

Concluiu-se que esta villa poderia ter, simultaneamente, a função de domínio rural com o seu fundus e a função de centro de difusão desta cerâmica de importação no contexto dos mercados regionais.




LOPES, M. C. (2003), A cidade romana de Beja. Percursos e debates acerca da civitas de Pax Ivlia, Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Coimbra, Anexos de Conimbriga, 3, Coimbra, 2 vols., 390+128 p.


[Preço: Portugal: 30 €;
estrangeiro: 39 €]

A obra que urgia publicar sobre a problemática que envolve a criação e o desenvolvimento de uma das mais paradigmáticas cidades romanas de Portugal.

Muito ilustrado, nomeadamente com mapas e fotografias, constitui o resultado de vários anos de investigação na cidade e seus arredores.

O 2º volume é um utilíssimo e exemplar catálogo de sítios arqueológicos da região.



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