Biografia
Nasce Aristides de Sousa Mendes um dia a seguir ao nascimento do seu irmão gémeo, César (este nasceu antes da meia-noite, e Aristides um pouco depois). Aristides e César eram filhos de D. Maria Angelina Ribeiro de Abranches e do seu marido José de Sousa Mendes, juíz. Aristides nasceu na pequena localidade de Cabanas de Viriato, perto de Nelas, junto à cidade de Viseu.
Principalmente por causa do nome, houve especulações acerca da possível ascendência judaica na família de Sousa Mendes. Embora isso seja possível deve também dizer-se que Aristides não se sentia de modo nenhum judeu. De facto, ele e a sua família eram profundamente católicos.
Aristides e César licenciam-se em direito na Universidade de Coimbra. No entanto, não optaram pela profissão do pai, tendo em vez disso escolhido a carreira diplomática.
Depois de uma breve missão à Galiza, Sousa Mendes foi nomeado cônsul-geral em Zanzibar, que era então parte da África britânica. Ficaria ali até Março de 1918, com excepção de grande parte de 1914 e 1915, que passou em Portugal por motivos de saúde. A vida em Zanzibar estava longe de ser fácil. Na Primavera e Verão de 1916, toda a família adoeceu ou de malária ou de bronquite aguda e asma, agravadas pelo clima de Zanzibar, um dos piores de África. A acrescentar aos problemas de saúde criados pelo clima palúdico, havia as dificuldades em encontrar habitação adequada para uma família de 6 filhos, 4 deles nascidos em Zanzibar.
Descobriu que o seu chanceler estava a roubar o cofre consular, notificou prontamente o Ministério, pedindo autorização para o demitir.
Foi convidado para chefiar temporariamente a agência consular italiana em Zanzibar.
A vida em Zanzibar era difícil e Sousa Mendes pediu repetidas vezes para ser transferido. A transferência, para Curitiba, Brasil, surgiu finalmente em 13 de Fevereiro de 1918.
Aristides é promovido a cônsul de 1ª classe (durante a ditadura de Sidónio Pais).
Sousa Mendes foi suspenso das suas funções em Curitiba e colocado na situação de disponibilidade, situação que geralmente significava a inacção ou um serviço irregular com uma redução considerável do vencimento. O despacho ministerial que o colocava nessa situação dizia que ele era considerado hostil ao regime político republicano e democrático vigente.
César, que por essa altura era encarregado de negócios na Embaixada portuguesa no Rio de Janeiro, ajudou à defesa de seu irmão enviando ao Ministério dos Negócios Estrangeiros uma representação assinada por 34 cidadãos portugueses residentes em Curitiba em defesa de Aristides «como protesto contra uma campanha miserável que ali lhe têm movido criaturas sem vislumbre de senso moral». O resultado da defesa de Aristides foi o levantamento da suspenção das funções diplomáticas.O facto de ter sido punido pelas suas convicções monárquicas, anti-republicanas, só serviu para reforçá-las. Aristides aumentou legalmente o seu nome para Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, reafirmando assim as suas raízes aristocráticas. César (seu irmão) fez o mesmo. As convicções aristocráticas estavam (e ainda estão, pelo menos por agora) bem presentes no tecto do hall de entrada da sua casa, em Cabanas de Viriato
Sousa Mendes foi enviado para dirigir temporariamente o consulado em San Francisco, Califórnia. Ficou nos EUA durante 2 anos, e 2 dos seus filhos nasceram ali. O 2º deles era o seu décimo filho (Angelina havia de dar-lhe ainda mais 4 filhos, o último nascido em 1933, quando ela tinha já quase 45 anos). É sempre difícil manter uma família numerosa, mas a redução drástica do vencimento resultante da colocação na situação de disponibilidade teve consequências financeiras desastrosas para Sousa Mendes. Teve de contrair empréstimos para alimentar e alojar a família - proeza difícil, especialmente nos EUA, onde o custo da habitação, como sempre era muito elevado e onde, como cônsul na disponibilidade, ele não tinha sequer direito a despesas de instalação. É colocado à frente do consulado do Maranhão, Brasil. Passa a gerir, interinamente, o consulado de Porto Alegre
Uma portaria desta data obriga-o a regressar a Lisboa para prestar serviço na Direcção-Geral dos Negócios Comerciais e Consulares.
É nomeado secretário da Delegação Portuguesa da Comissão Internaciunal de Lisboa entre Portugal e Espanha
Sousa Mendes foi nomeado cônsul em Vigo, na Galiza. Por que razão foi Sousa Mendes, que passara anos na disponobilidade e em desgraça, subitamente escolhido para este lugar de eleição? Segundo as palavras do próprio, foi escolhido "por motivo de confiança" pelo regime militar, que via nele «o funcionário próprio para viajar e inutilizar os manejos conspiratórios dos emigrados políticos contra a Ditadura(.)» Sousa Mendes foi nomeado cônsul-geral em Antuérpia, na Bélgica, um posto prestigioso e lucrativo. A sua carreira estava no auge. No entanto, Sousa Mendes estava revoltado com a duplicidade,a deslealdade e a intriga que caracterizavam o funcionamento interno do Palácio das Necessidades. Sonhava ser capaz algum dia de desmascarar a corrupção no seio do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas compreendia que isso era impossível sob o regime vigente. «Quando um dia pudermos falar», escrevia ele a César,«não nos calaremos». Infelizmente, esse dia nunca havia de chegar. Seriam no entanto necessários muitos anos e a sua própria tragédia pessoal para que o descontentamento e a raiva de Sousa Mendes tomassem forma política. Face aos desaires da cena política nacional, refugiava-se na fé. Daí as constantes imagens religiosas existentes na sua casa. Tornou-se decano do corpo diplomático em Antuérpia. Durante 2 anos ocupou essa posição sem remuneração adicional de qualquer espécie, a despeito dos gastos adicionais que isso obviamente impunha. Teve enorme êxito nessa qualidade, como demonstram numerosos artigos publicados na imprensa de língua francesa e flamenga. O rei belga, Leopoldo III, tinha tanto apreço por Aristides que lhe conferiu duas condecorações, fazendo-o oficial da Ordem de Leopoldo e comendador da Ordem da Coroa, a mais alta condecoração da Bélgica. Sousa Mendes escreveu a Salazar, recordando-lhe, entre outras coisas, que era «o número 2 no respectivo quadro, sendo o mais antigo de todos os funcionários que preferiram a passagem ao corpo diplomático, em resposta a um inquérito do Ministério dos Negócios Estrangeiros»B>«chefe de missão de 2ª classe» na Legação chinesa ou na japonesa. Em vez disso, em 1 de Agosto desse ano Salazar transferiu-o para Bordéus, em França, um lugar pouco atractivo. Sousa Mendes enviou 2 telegramas a Salazar, pedindo para ser mantido em Antuérpia. Salazar recusou-se a reconsiderar. Desta vez a teimosia de Salazar revelar-se-ia positiva: o seu resultado final seria o salvamento de um número incontável de vidas.
O destino reservava ainda outra grande tragédia pessoal a Sousa Mendes. Angelina, sua esposa, faleceu aos 59 anos de idade, depois de ter estado em coma durante vários meses. O seu casamento, como todos os casamentos, não fora isento de problemas, mas Sousa Mendes amava profundamente a mulher e ela pagava-lhe esse amor com uma dedicação total a ele e à família. Ela tinha participado e aprovado inteiramente as decisões que Sousa Mendes tinha tomado em Bordéus, nunca o tinha censurado pelas desastrosas consequências pessoais dessas decisões e tinha-o apoiado sempre. O seu heroísmo e abnegação não eram inferiores aos dele. Ao seu modo discreto e apagado, tinha partilhado os sofrimentos do marido, e estes tinham-na quebrado a ela antes dele. Não seria apenas a geografia a separar Sousa Mendes da família nos últimos anos da sua vida - muitos dos seus filhos emigraram para os EUA. Em Outubro desse ano, Sousa Mendes casou por procuração com a francesa Andrée, de quem tivera uma filha. Parece haver poucas dúvidas de que era um caso de amor estranho mas genuíno. No entanto, Sousa Mendes, sabia que casar com Andrée podia ter graves consequências, devido à instabilidade mental dela e à profunda hostilidade da família dele em relação a ela. Um dos motivos de Sousa Mendes para se casar parece ter sido o desejo de legitimar a filha. Sem dúvida que a solidão também foi um factor. Sousa Mendes morre «pobre e desonrado», no Hospital da Ordem Terceira, na Rua Serpa Pinto, em Lisboa. A causa do óbito foi uma trombose cerebral agravada por pneumonia. Depois da sua morte, a sua casa de Cabanas de Viriato, bem como o seu recheio, foram vendidos em hasta pública por causa de divídas que não tinham sido pagas. Apenas as paredes foram poupadas, ficando o seu interior completamente vazio e à mercê de estranhos que ao longo dos anos a aproveitaram para galinheiro, pocilga ou mesmo refúgio de rebanhos. À família que tanto amava nada deixou a não ser o jazigo onde o seu corpo ficou a repousar. A sua morte passou despercebida em Portugal. Em Léopoldoville, capital do Congo Belga, um refugiado que ele tinha ajudado lembrou-se do corajoso cônsul e escreveu na necrologia de um jornal: «Un grand ami de la Belgique est mort.»
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